RESTINGA MUSICAL

Este modesto espaço tem como objetivo permitir que um apaixonado por música compartilhe seus gostos e reflexões sobre o mundo musical com seus amigos e visitantes.

sábado, agosto 19, 2006

RETRÔ E INOVADOR!


Costumo ter uma visão pessimista da vida em muitas oportunidades. Em relação a indústria da música não tem sido muito diferente. Para quem não aprecia "rap" e "hip hop"(é o meu caso), o mercado da música anda desanimador. Somos bombardeados diariamente com toda essa vulgaridade e futilidade destes dois ritmos vindos dos Estados Unidos. As mulheres lutaram por tanto tempo para deixarem de ser simples pedaços de carne e agora ganham a vida sendo bundas, coxas e seios cantores. Os "brothers", então, anunciam o seu apreço pelas drogas e tem ataques de megalomania, dizendo em todas as músicas que são gostosões, que deixam as mulheres loucas e que as prendem pelo sexo espetacular. Aí fica difícil aturar. Além do mais, sabemos que quando o cara conta muita vantagem é porque fica devendo em alguma coisa!
No cenário nacional, a coisa também anda feia. O funk carioca é a versão tupiniquim para o hip hop sexista americano. Os representantes da MPB andam cada vez menos inspirados e mais distantes do sucesso de público. Aliás, muitos medalhões da MPB parecem ignorar totalmente o povão. Fazem músicas para si mesmos e para um grupo de privilegiados. Mas, de vez em quando, uma boa novidade surge e nos trás um pouco de esperança.
No Brasil, bandas como a novata "Gram" trazem um novo alento. No contexto internacional as boas surpresas também acontecem. Há cerca de uns três meses fiz o primeiro contato com uma banda que já tem um bom tempo de estrada , mas para mim é uma novidade. Baixei o sensacional álbum "At War with the Mystics" e passei imediatamente a admirar o trabalho da banda The Flaming Lips.
Por uma pequena pesquisa que feita na Internet descobri que este lançamento da banda é praticamente o oposto do trabalho anterior, marcado pela forte presença dos elementos eletrônicos. Neste novo álbum, o Flaming Lips enveredou pelo caminho retrô. A parafernália eletrônica perde espaço e guitarras que evocam os criativos anos 70 aparecem em primeiro plano. Obviamente os elementos mais modernos não são totalmente retirados e o resultado desta mistura é sublime!
Em termos melódicos, é um dos melhores álbuns que ouvi nos últimos anos. A proposta retrô não se resume às guitarras. O clima do disco é bem saudosista, ora evocando o pop rock dos anos 70, ora evocando o rock progressivo. Muitas melodias do disco sugerem reflexões e aquele sentimento de saudade de algo que não conhecemos, que apenas algumas poucas bandas conseguem evocar. É o caso da lindíssima "Vein of Stars", com sua letra meio filosófica e a melodia que nos faz viajar em nossos próprios pensamentos e sentimentos.
Realmente é uma obra que nos atinge primeiro nos campos afetivo e reflexivo. Mas, para além disso, algumas letras tem um evidente caráter político, de oposição a insana e imbecil política Bush, como comprova a canção "Free Radicals" e o próprio título do álbum. Ou seja, o Flaming Lips foge do lugar comum atual, não só em termos musicais, mas também no caráter crítico das suas letras.
Ao fazer uma viagem pela musicalidade dos anos 70, a banda produziu um acontecimento novo no repetitivo mercado musical de hoje. Isto prova que é possível fugir a ditadura do mercado e produzir algo genuinamente novo, ainda que tenhamos que mergulhar no passado para isso. Dessa forma, joga-se por terra o lugar comum de que toda a inspiração no passado é meramente saudosista e desprovida de criatividade. Artistas competentes, como o Flaming Lips demonstra ser, conseguem se apropriar do passado para produzir algo novo.
Quando ouvimos pérolas como "The Sound of Failure..." ou "It Overtakes Me...", com seus títulos completos quilométricos e o climão retrô, logo reconhecemos os elementos das décadas passadas, mas também percebemos, de imediato, que se trata de algo novo e legitimamente original.
Sendo assim, torcemos para que mais novidades como essas consigam vencer a corrente da mesmice e trazer mais prazer para os amantes da boa música.