RESTINGA MUSICAL

Este modesto espaço tem como objetivo permitir que um apaixonado por música compartilhe seus gostos e reflexões sobre o mundo musical com seus amigos e visitantes.

segunda-feira, julho 31, 2006

AS BANDAS BRAZUCAS NO MÊS DO ROCK

Estamos no último dia do mês do rock e, por enquanto, ainda não prestei as devidas homenagens a este gênero musical que tanto me encanta. Como havia prometido, falarei rapidamente sobre algumas das minhas bandas preferidas do rock brazuca. Seria uma injustiça não ressaltar o papel fundamental destes heróis que aceitaram o desafio de consolidar uma cena rockeira no Brasil. Mesmo que os nacionalistas mais exaltados, e na minha opinião EXAGERADOS, afirmem que o rock não é música brasileira e por isso não devemos fazer rock e apenas nos dedicarmos ao ritmos tupiniquins. Não devemos nunca esquecermos os ritmos criados no Brasil, mas isso não significa assumir uma postura radical e fascista. O rock produzido pelas nossas bandas se torna, obrigatoriamente, brasileiro.
Feito este desabafo, vamos ao que interessa:
LEGIÃO URBANA - Simplesmente a melhor banda da história do rock brasileiro. Se não fosse a Legião Urbana, eu não teria a relação apaixonada que tenho com a música. Esta história de enamorado pela música começou em 1986, quando ganhei num amigo oculto(porque eu tinha pedido especificamente por isso), o lendário álbum LEGIÃO URBANA 2! O encanto com as letras críticas, sinceras e poéticas de Renato Russo e com a excelente qualidade melódica da banda foram imediatos e duram até hoje. É disparado o maior fenômeno do rock nacional, e isso sem depender da ajuda do grupo Globo. Até os adolescentes de hoje se apaixonam pelo frescor juvenil e crítico deste gigante da nossa música. Digo sem medo que são os nossos BEATLES, só que melhores!!!(não queiram me assassinar por esta última declaração, também tenho direito a algumas liberdades de vez em quando!) Álbuns Obrigatórios: Todos!!!!! Mas, para começar, ouça "Legião Urbana 2" e "As Quatro Estações".
IRA! - Uma das melhores bandas do cenário brasileiro. Os músicos são virtuosos, o vocalista Marcos "Nasi" Valadão é carismático e telentoso . Sem falar no Edgard Scandurra, virtuosíssimo guitarrista e excelente compositor. A maioria das grandes músicas da banda são de sua autoria. A idéia de que se trata de uma banda do segundo escalão do rock brasileiro dos anos 80 não poderia estar mais equivocada. Considero uma banda com uma contribuição musical muito maior que outras bandas que sempre tiveram muito espaço na mídia e pouco mostraram. Álbuns Obrigatórios: "Mudança de Comportamento", "Vivendo e não Aprendendo", "Entre seus Rins" e "Clandestino".
PLEBE E RUDE - Banda com letras altamente politizadas, admiradas inclusive pelo mestre Renato Russo. A atitude e a ironia crítica das letras são as características básicas desta grande banda da geração dos anos 80. Indispensável para quem gosta de boa música e letras críticas em relação a sociedade. Álbuns Obrigatórios: "O Concreto já Rachou" e "Nunca Fomos tão Brasileiros".
BANDAS NOVAS:
GRAM - Mesmo com um único álbum lançado, esta banda nos seduz com uma melancolia moderada e um DNA musical que imediatamente traz a palavra BEATLES à nossa mente. Entretanto, Gram não se trata de um cover dos Beatles. O grupo tem a sua própria identidade, inegável nas suas belas e melódicas canções, fugindo do arquétipo maldito de CPM22 e Charlie Brown Jr, que insiste em empobrecer o rock nacional. Não deixe de conferir o álbum "Gram"!
DETONAUTAS ROQUE CLUBE - Quem leu a análise anterior, deve estar se perguntando: mas Detonautas não é a mesma porcaria que CPM22? Pelo menos para mim, a resposta é um sonoro NÃO. Tudo bem, os caras se pareciam um pouco com o CPM em seu disco de estréia(Detonautas Roque Clube). Contudo, mesmo neste álbum havia canções como "Olhos Certos", que jamais poderiam ser feitas pelo CPM. No álbum seguinte houve uma evolução. E agora, pouco antes da trágica morte do guitarrista Rodrigo Neto, os Detonautas nos presentearam com um discão chamado "Psicodeliamorsexo&distorção". Produzido pelo "porra louca" Edu K, é um álbum corajoso que muda os rumos musicais da banda. Vale a pena conferir!
SKANK - Antes de me crucificarem, sei que o Skank não é uma banda nova, mas deixem-me explicar. Como banda de rock, ainda que POP rock, os mineiros liderados por Samuel Rosa podem ser considerados novatos. Afinal de contas, o primeiro álbum onde a banda deixou aquele reggae eletrônico de lado e partiu para um pop rock preciso e honesto, foi o seu penúltimo cd "Maquinarama". Esta feliz mudança se confirmou no maravilhoso "Cosmotron", o mais recente trabalho da banda(tem um saindo do forno agora). Por possuírem apenas dois discos de rock, são aqui tratados como uma banda nova. Nem preciso dizer que os dois álbuns são indispensáveis!

domingo, julho 09, 2006

O MÊS DO ROCK



Estamos no mês do gênero musical pelo qual tenho o maior apreço. Não desprezo outros gêneros, que também possuem espaço na minha vida, mas o Rock está um pouquinho acima dos outros. Contudo, a falta de tempo tem tornado impossível fazer uma homenagem digna do "bom e velho rock and roll", como diria Nazi e seus parceiros do Ira! Por isso, farei a homenagem que o tempo permite. Segue uma lista de algumas das minhas bandas preferidas, com rápidos comentários. Se quiser, dê a sua opinião sobre as referidas bandas e artistas ou fale dos seus preferidos. Hoje são só as gringas, depois falarei das brazucas. Um abraço!
PINK FLOYD - Os papas do rock viajandão! Muitos vivem discutindo se os "floyds" são progressivos ou psicodélicos. Isso realmente não tem a mínima importância. O som desta banda é tão rico e inventivo que não se encaixa em rótulos. Álbuns obrigatórios: "Dark Side of the Moon", "Atom Heart Mother", "Wish you Were Here" e "The Wall".
RUSH - Muitos torcem o nariz para o trio canadense que une elementos de música progressiva, hard rock e piscodelia. Particularmente considero uma das melhores bandas da cena rockeira. Nunca ficaram parados no tempo. Estão sempre lançando algo novo e experimentando coisas novas.
Álbuns obrigatórios: "Caress of Steel", "Moving Pictures", "Fly By Night", "Roll the Bones" ,"Test for Echo" e "Grace Under Pressure".
GENESIS - Considerada um dos principais nomes do rock progressivo. Possuem álbuns prodigiosos e marcantes, verdadeiras bíblias do progressivo. Mais tarde, mergulharam no pop, sem perder a dignidade. Pelo menos enquanto mantiveram três integrantes da formação original. Álbuns obrigatórios: (progressivos) "Foxtrot", "Trespass", "Selling England by the Pound" e "Wind and Wuthering". (pop) "Invisible Touch" e "Duke".
YES - Outro gigante do rock progressivo. Músicos extremamente virtuosos, um vocalista cheio de estilo, grande longevidade e manutenção de um padrão mínimo de qualidade, mesmo com as inúmeras mudanças de formação. Álbuns obrigatórios: "Fragile", "The Yes Album", "Close to the Edge", "Keys to Ascension 1 e 2" e "Magnification".
MARILLION - Minha banda favorita. Não falarei muito, pois pretendo dedicar posts inteiros a esta banda escocesa. Há duas fases distintas da banda. Com Fish nos vocais, era claramente progressiva. Com Steve Hogarth nos vocais, assumiu um tom mais pop, sem abandonar completamente os elementos progressivos. Gosto mais da segunda fase, mas Marillion é sempre excelente. Álbuns obrigatórios: "Misplaced Childhood", "Script for a Jesters Tears", "Brave" , "This Strange Engine", "Holidays on Eden", "Afraid of Sunlight" e "Anoraknophobia".
BEATLES - Não há o que comentar. Álbuns obrigatórios: não há o que comentar. Apresentar Beatles seria uma arrogância e uma inutilidade!
FAITH NO MORE - Porra louca! Som deliciosamente confuso, vocalista lunático, baterista virtuoso, letras non sense e melodias inusitadas! Mergulhe de cabeça e ame ou odeie! Álbuns obrigatórios: "The Real Thing", "Angel Dust" e "King for a Day, Fool for a Lifetime".
COLDPLAY - Som honestamente pop e de alma britânica. Belas melodias, que não são banais. Ótimo vocalista e álbuns inspiradíssimos. Grandes compositores! Álbuns obrigatórios: "A Rush of Blood to the Head" e "X&Y".
AUDIOSLAVE - Banda nova a partir do desmanche de duas bandas dos anos 90. Retorno ao som rockeirão. Rock básico, sem "enfeites" de teclados e programações. Os dois discos da banda são mais que obrigatórios: "Audioslave" e "Out of Exile".
RADIOHEAD - O oposto da banda anterior. Muitos nem consideram que "isso" seja rock. Samples, programações e todo tipo de parafernália eletrônica. Mas, se você escutar com atenção, as guitarras estão na base da maioria das músicas. Álbuns obrigatórios: "Ok Computer", "The Bends", "Kid A" e "Hail to the Thief".
Ps: Numa outra oportunidade, falarei de outras bandas e artistas!

sábado, julho 01, 2006

UM VISIONÁRIO NORDESTINO - PARTE II - A VITÓRIA DO CANTADOR



Continuamos acompanhando a peleja do nosso cantador, que chega a seu ponto mais crítico na passagem dos anos oitenta para a década de noventa. Quando compôs seu nono disco, DÉCIMAS DE UM CANTADOR, nosso herói enfrentava o momento mais difícil de sua luta contra as drogas. Foi um disco com experimentações e viagens, que provavelmente refletiam o estado de espírito do compositor. As dificuldades aumentaram e Zé Ramalho ficaria quatro anos sem lançar músicas inéditas. Sua décima obra só chegaria em 1992 com o disco FREVOADOR. Com este lançamento, novas perspectivas começavam a se abrir. A canção "Entre a Serpente e a Estrela", versão de Aldir Blanc para uma música estrangeira, foi incluída na trilha sonora de uma novela televisiva de sucesso. O cantador começa a retornar a mídia e recuperar seu espaço, que havia perdido por conta dos dramas pessoais.
Mais importante que o retorno a mídia, FREVOADOR marcou o reencontro do cantador com a sua melhor forma. A música título, é uma versão de Zé Ramalho para Hurricane de Bob Dylan, uma das grandes referências da carreira do nosso herói. Transformada em um frevo, a canção ganha força e nova "personalidade". As baladas "Serpentária", parceria com o grande Sivuca, e "Nona Nuvem" trazem uma nova musicalidade e uma nova faceta dos versos do cantador: a sensualidade. Esta temática seria cada vez mais explorada nos álbuns seguintes, trazendo um novo componente na carreira do nosso cantador. Obviamente, os elementos já tradicionais na música do compositor, como as referências à mitologia e o tom visionário e profético, continuavam presentes, como comprovam as músicas "Botas de Sete Léguas" e "Do Terceiro Milênio para Frente."
Já em meados dos anos 90, outra novela televisiva de sucesso impulsionaria ainda mais a carreira do nosso cantador. Dezessete anos depois a canção "Admirável Gado Novo", parte da trilha sonora da novela "O Rei do Gado", retornaria triunfante , fazendo um sucesso maior que na época de seu lançamento. Novas gerações começam a se interessar pela música do nosso cantador. Aquele rótulo de música cult começa a desmoronar, pois Zé Ramalho vai se tornando cada vez mais popular no sudeste. O preconceito contra o nordestino vai sendo vencido. Os jovens já não se sentem envergonhados em ouvirem as canções do nosso herói. Muito pelo contrário, a juventude se identifica cada vez mais com a obra do cantador. Os críticos, sempre antenados com as tendências dos jovens, são obrigados a mudarem sua avaliação sobre Zé Ramalho, ainda que a contragosto.
Obviamente este processo não se deu tão rápido e com tanta facilidade. Além disso, não foi só a força da mídia que reergueu nosso cantador. O maior responsável pela sua volta por cima foi o próprio Zé Ramalho. Uma seqüência de grandes e inspirados álbuns foram o verdadeiro caminho para o reconhecimento. A irretocável ANTOLOGIA ACÚSTICA foi o primeiro passo. Muito mais que uma simples coletânea dos grandes sucessos, este registro acústico da obra do compositor reinventou os sucessos antigos com novos e surpreendentes arranjos. Um álbum obrigatório para quem quer conhecer a força deste cantador.
Viriam em seqüência os discos (agora cds) CIDADES E LENDAS, EU SOU TODOS NÓS, NAÇÃO NORDESTINA, O GOSTO DA CRIAÇÃO, além de um álbum onde gravou sucessos de Raul Seixas e o mais recente ESTAÇÃO BRASIL, onde nosso herói canta grandes sucessos de outros cantores brasileiros. Com estas obras, nosso cantador continuou produzindo música cheia de energia, frescor e criatividade, enquanto os grandes "medalhões" da MPB agora produzem discos medíocres e são apenas sombras do que foram um dia, ainda que protegidos pela crítica profissional brasileira , sempre preconceituosa e arrogante.
Vamos agora a uma rápida análise de alguns álbuns deste que, na minha opinião pessoal, é o maior compositor e cantor da música brasileira:
A TERCEIRA LÂMINA - Terceiro disco de Zé Ramalho. Abre com a linda "Canção Agalopada", música cheia de referências bíblicas e imagens misteriosas. Destaque para a participação da cantora lírica Maria Lúcia Godoy. Outro grande destaque é a canção título, "A Terceira Lâmina", que une o tom profético com a crítica social. Há ainda o gênero musical criado por Zé Ramalho, o GALOPE, que mistura elementos de baião e frevo. "Galope Rasante" é o representante desta criação do cantador. Temos outras grandes canções como "Atrás do Balcão", a romântica "Kamikaze", "Cavalos do Cão", que trás a temática do cangaço, a belíssima balada "Ave de Prata" e a otimista "Dia dos Adultos". É um disco bom do início ao fim, talvez a obra-prima de Zé Ramalho.
FORÇA VERDE/ ORQUÍDEA NEGRA - Talvez os discos com as letras mais viajantes da carreira do cantador. Sobram referências à mitologia grega e viagens espaciais. Há ainda questionamentos filosóficos e até reflexões sobre os poderes de Deus. Destacam-se a linda "Força Verde", "Eternas Ondas", que trás o olhar visionário do compositor sobre Deus, "O Monte Olímpia", "Banquete de Signos", "Pepitas de Fogo" e a reflexiva "Beira-Mar parte II". No outro disco, os destaques são: "Orquídea Negra", a viajandona "Para Chegar mais Perto de Deus", "Kryptonia", que também fala sobre o criador, "Taxi Lunar", "Filhos do Câncer", a politicamente incorreta "Dominó" e a inusitada "Xote dos Poetas".
O GOSTO DA CRIAÇÃO - O álbum mais surpreendente de Zé Ramalho. Lançado em 2002, é certamente o disco mais corajoso do cantador. Nesta obra ele investe com intensidade nas temáticas sensuais e românticas. A musicalidade nordestina e as letras misteriosas e cheias de imagens são colocadas em segundo plano. O eu lírico fala das mulheres com as quais sonhou, da força do ato sexual, das dificuldades do amor e por aí vai...O compositor não se importou em fazer um disco totalmente diferente daquilo que o público esperava. Isso denota coragem, talento e inconformismo. O resultado é maravilhoso. Após o choque inicial, não temos como fugir da força sensual e lírica deste disco. Todo o disco é irretocável. Ainda assim, poderíamos destacar "O Gosto da Criação", "O Silêncio dos Inocentes", "O que Vale para Sempre", "Coisas Boas e Mais", a épica "Fissura", "Luz da Excelência" e a única representante da temática profética "O Apocalipse de Zé Limeira".
PS: Poderia falar de todos os discos do Zé. Todos merecem atenção, mas este post já passou da conta. Poderemos voltar ao assunto em outro momento. Um abraço e desculpem pelo texto gigantesco!