RESTINGA MUSICAL

Este modesto espaço tem como objetivo permitir que um apaixonado por música compartilhe seus gostos e reflexões sobre o mundo musical com seus amigos e visitantes.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

ÁLBUNS OBRIGATÓRIOS

Depois de uma longa ausência, já estava mais do que na hora de atualizar este blog. Os compromissos profissionais tornaram impossível escrever todos os textos que eu gostaria. Mas, agora que as férias chegaram, vamos sacudir a poeira e as teias de aranha que se acumularam por aqui. Para voltar em muito boa companhia, teremos mais um exemplar da coluna “Álbuns Obrigatórios”. Hoje seremos acompanhados por um “casal” de peso da música internacional, cada um com seu estilo único.

DAVID BOWIE - HEATHEN

Antes do ano de 2002, o eterno camaleão do rock, David Bowie, certamente não era um nome lembrado nas listas de maiores sucessos fonográficos daquele momento. Muitos críticos e fãs já davam sua carreira por encerrada. Seria mais um daqueles artistas a viver de seu passado glorioso e lançar sucessivas coletâneas de Greatest Hits. Entretanto, o lançamento, em 2002, do antológico álbum “Heathen” alterou completamente este panorama.
Na verdade, o álbum anterior, “Hours...”, já havia provado que o camaleão tinha recuperado a boa forma e a inspiração, mas não tinha sido notado pelo grande público. “Heathen” trouxe Bowie novamente para o topo das listas de sucesso, principalmente por causa da lindíssima canção “Slow Burn” com solos de guitarras orgásticos , o vozeirão de Bowie e um clima levemente sombrio. Um sucesso imediato e merecido.
Obvio que este hit não é a única grande canção do CD. Seria impossível apontar uma faixa do disco que seja apenas boa ou regular. Trata-se de uma seqüência de 12 obras-primas. Algo que , talvez, não tenha ocorrido nem na fase áurea do cantor nos anos 70. Ousaria dizer que Heathen possivelmente é o grande álbum da carreira deste inigualável cantor. Canções inesquecíveis como “Sunday”, “Slip Away”, “Afraid”, “I would be Your Slave”, “Everyone says “hi” e “Heathen” comprovam as minhas ousadas afirmações. Um álbum realmente imperdível, tanto para quem conhece o camaleão, quanto para aqueles que pretendem se iniciar no universo da música de David Bowie.


MADONNA - CONFESSIONS ON A DANCE FLOOR

Não é segredo para aqueles que me conhecem que gosto mais de rock do que música dançante. Mas isso não é uma regra geral. Quando escuto um grande álbum DANCE, que me faz ter vontade de sacudir o esqueleto(fico só na vontade, pois danço tão bem quanto uma pedra), sei reconhecer suas qualidades e reverenciar o seu realizador.
Muitos também já estavam considerando Madonna uma carta meio fora do baralho no mundo pop e dançante. Afirmavam que a cantora estava num decrescente. É obvio que ela nunca parou de lançar discos, com pelo menos duas ou três músicas nas paradas de sucesso. Isso não era o suficiente para certos críticos, que já a consideravam meio ultrapassada. Como estavam enganados!
Neste ano de 2006, a rainha pop lançou um álbum altamente dançante e de excelente qualidade, fugindo de toda esta baboseira de Byonce e suas clones. Com uma matiz musical totalmente diferente do HIP HOP, que é exposto de forma massificada na mídia atual(causando certo enjôo), Madonna fez um disco antológico e histórico em sua carreira. Não se trata mais daquela coisa de 2 ou 3 faixas para fazer sucesso e sim um álbum inteiro de belíssimas e criativas canções dançantes. Destacando-se os hits imediatos “Hung Up”, “Get Together”, “Sorry” e “Jump”, além de outras tão boas ou melhores, como “Forbidden Love”, “Isaac” e “Push”. É ouvir e dançar, mas também é bom para quem gosta apenas de ouvir boa música.

Ps: Aguardem no final de semana um balanço musical do ano de 2006.

sábado, novembro 11, 2006

CELEBRANDO A VIDA!


A inveja é um dos sentimentos mais perigosos que existem. Pode levar a atitudes extremas e até criminosas. Mas, apesar disso, creio que existe um tipo de inveja "do bem". Aquela em que você pensa assim: "Queria ter estado no lugar dessas pessoas ou ao lado delas!". Foi este tipo de inveja que me acometeu quando assisti em DVD ao maravilhoso show "Tambores de Minas" de Milton Nascimento. Como gostaria de ter visto toda aquela beleza de perto, ao vivo e a cores! Uma frustração que nunca será totalmente superada, mas que é amenizada pelo belo registro do show em DVD.
Na segunda metade da década de 90, Milton Nascimento enfrentou o drama causado por doença que avançou rapidamente, tornando o nosso rechonchudo cantor numa figura quase esquelética em pouco tempo. Os boatos começaram. Muitos afirmavam convictos que Milton estava com AIDS e que seus dias estavam contados. Cheguei a presenciar o choro de uma professora da UERJ, lamentando que aquele cantor tão maravilhoso morreria prematuramente em função da temível e terrível doença. Na época tinha poucas informações a respeito e me preparei para receber a notícia de seu falecimento a qualquer momento. Era irônico, pois eu tinha me apaixonado pela obra deste mestre da música brasileira há pouco tempo. Confesso que fiquei bastante decepcionado.
O tempo passou, e meu envolvimento com as questões da faculdade me afastou um pouco do assunto. Até que fiquei sabendo que a doença nada tinha a ver com a AIDS. Seria uma manifestação incomum de um tipo de diabetes. Depois ouvi as palavras do próprio Milton afirmando que estava se recuperando e que estava magoado com aqueles que haviam inventado o maldoso boato da AIDS. Pouco tempo depois desta entrevista, fiquei sabendo do álbum "Nascimento". Sim, uma nova obra de Milton Nascimento estava chegando, dessa vez reverenciada pelo Grammy de melhor álbum de World Music.
Na verdade, "Nascimento" era um renascimento do cantor. Melhor, uma reinvenção e, acima de tudo, uma reconciliação com a vida. Foi realmente um novo nascimento para o Milton. A tradicional boina foi abandonada e surgiu um Milton ainda muito magro em função da doença, mas com os cabelos e cabeça totalmente a mostra. A novidade não era só visual. Em termos musicais, o álbum trazia elementos das festas religiosas de Minas Gerais. Uma profusão de instrumentos de percussão, lembrando as festas de rua das comunidades negras mineiras e sua junção com as celebrações católicas. Milton se reconcilia com os tambores de Minas, busca em suas próprias origens o material para o seu renascimento.
O show "Tambores de Minas", lançado após o álbum "Nascimento", traz esta reconciliação de Milton Nascimento com a vida e com a cultura popular mineira. O espetáculo se inicia com as palavras do cantor, fazendo referência aos problemas que enfrentou e anunciando que aquele show é uma celebração à vida. Há uma concepção teatral em cada detalhe do espetáculo. Nove jovens atores, cantores, bailarinos e acrobatas participam o tempo todo. As roupas deste elenco representam as vestes dos participantes das festas religiosas mineiras. Todos eles tiveram aulas de canto e de percussão e fazem bonito durante o espetáculo.
O repertório mistura faixas do álbum "Nascimento" com grandes sucessos da carreira do cantor. O resultado final do espetáculo é emocionante. A entrega de Milton é total. É visível a sua emoção em cada canção. Ainda mais notável em músicas como "O Rouxinol", que diz o quanto a música o ajudou a superar seus piores momentos, e em outras canções como "Nos Bailes da Vida" e "Canções e Momentos" que falam sobre a arte de cantar.
Confesso que quase fui às lágrimas em muitos momentos. A energia do cantor, a forma como se sente feliz quando está com o seu público, a celebração da vitória da vida sobre a morte, a beleza das inigualáveis melodias criadas pelo mestre e seus grandes parceiros, e a interpretação emocionada são elementos que podem dar uma idéia da grandiosidade deste show.
Abri o texto dizendo que gostaria de ter estado no lugar das pessoas que assistiram aquele show ao vivo. Fica a lição. Na próxima vez que tiver a oportunidade de assistir a um show deste que é, na minha opinião, o maior cantor deste país, não deixarei passar novamente. Não importa a distância e os perigos que nos esperam em cada esquina das grandes cidades brasileiras. Mas, talvez tenha sido melhor só assistir a "Tambores de Minas" em DVD. Se eu tivesse estado lá, provavelmente não conseguiria conter as lágrimas como consegui em casa. E teria passado a maior vergonha! Um abraço a todos os amigos!

domingo, novembro 05, 2006

ALGUNS GRANDES VOCALISTAS


Quando nasceram as primeiras bandas de rock, deve ter nascido junto a discussão entre os fãs sobre qual é o melhor vocalista do rock. Esta questão permanece e desperta as maiores paixões, causando até desentendimentos. Afinal de contas, gosto é algo muito subjetivo. Óbvio que não pretendo meter a minha mão nesta cumbuca. Nem serei louco de tentar apontar o melhor vocalista. Apenas farei uma pequena listagem com alguns daqueles cujo o canto mais agrada os meus ouvidos. É claro que muitos outros que me agradam ficarão de fora, caso contrário seriam necessários uns três posts. Vão aqueles que estão mais "frescos" na minha memória agora, o que não quer dizer que sejam todos atuais. Chega de enrolação. Vamos a lista:

PETER GABRIEL - A fase áurea do Genesis não teria sido tão brilhante sem a presença marcante deste versátil vocalista. Seus vocais "interpretados", teatralizados são inconfundíveis. As longas suites da banda, com vários "personagens" devem muito a versatilidade e a teatralidade de Peter Gabriel. Mesmo em sua atual carreira solo, em discos sublimes como "Ovo" e "Up", temos um PG mais maduro, sem, no entanto, deixar de lado as qualidades que o colocaram como uma verdadeira unanimidade no cenário rock e pop.

CHRIS CORNELL - Um dos maiores trunfos do Audioslave é o talento deste vocalista, já respeitado desde os tempos do Soundgarden. Sua voz tem a energia necessária nas músicas com a pegada mais agressiva e , nas maravilhosas baladas desta grande banda, todo o seu talento fica ainda mais evidente. O Audioslave trouxe o "rockão" , tocado apenas com guitarra, baixo e batera, de volta, tudo capitaneado pela bela voz de Cornell. Um dos vocalistas mais admirados de hoje.

STEVE HOGARTH - Muitas pessoas conhecem o Marillion pela música Keyligh, da época em que o vocalista Fish ainda estava a frente dos microfones. Muitos saudosistas ainda consideram que o Fish é o grande vocalista da banda e etc. Conversa fiada. Desde 1989, um cara chamado Steve Hogarth assumiu os vocais desta maravilhosa banda e a mudou completamente. A banda que era equivocadamente considerada uma cópia do Genesis na época do Fish, passou a ter uma identidade própria e a entrada de Hogarth foi fundamental neste processo. A bela, grave e bem postada voz de Hogarth combina com os novos elementos pops incorporados ao som da banda nesta nova fase. Apesar disso a alma progressiva da banda continuou, só que enriquecida por estes novos elementos e pelo talento deste novo vocalista.

MIKE PATTON - Toda boa lista tem um porra louca. Aqui não poderia ser diferente. Esse lunático que começou em bandas de Deth Metal, combinou perfeitamente com o som caótico da extinta banda Faith No More. A partir do segundo álbum da banda, "Angel Dust", o cara começou a variar os timbres de voz, brincar de imitar tipos característicos de vocalistas e fazer todo tipo de loucura que você possa imaginar. Numa única música o cara fazia a voz tipo Elvis, Rick Astley e a sua própria. Nem Barry White escapava de suas brincadeiras com a voz. O cara acabou se tornando, na minha opinião, um dos maiores vocalista de todos os tempos. Tinha todos os elementos bombásticos: excelente voz, variação de timbres, criatividade, nenhum medo de passar ridículo, energia e muita loucura! Sabe qual é a notícia mais recente que tive do cara? Fez um dueto com a Bebel Gilberto! Já imaginou!

CHRIS MARTIN - Quem conhece o rock pop honesto e de excelente qualidade do Coldplay, sabe que suas melódicas canções devem muito aos vocais característicos e emocionados deste talentoso vocalista. Sua forma serena de cantar, seu timbre de voz bem singular, e a emoção que coloca em cada verso, fazem deste pouco lembrado vocalista um dos melhores da atualidade.

STUART MURDOCH - Há pouco tempo entrei em contato com o som da banda alternativa Belle and Sebastian, e já me apaixonei completamente. Destoando totalmente das regras da música da moda, a banda busca na inspiração no passado e no som limpo e delicado a sua própria identidade. Neste sentido é quase impossível também não cair de amores pela delicadíssima voz deste vocalista único no mundo do rock. Sua voz extremamente suave e delicada é diferente de tudo que domina as rádios hoje em dia. Um ótimo consolo para aqueles que gostam de boa música!
Obs.: Deixem as suas opiniões sobre os vocalistas da lista, falem dos seus preferidos, façam a sua própria lista! O espaço aqui é de vocês!

domingo, outubro 15, 2006

O MUNDO(MUSICAL)DÁ MUITAS VOLTAS!

Cá estamos nós, em pleno ano 2006. Enquanto escrevo este post, estou ouvindo músicas de bandas como BELLE AND SEBASTIAN, MUSE e SPOCK´S BEARD. São minhas mais novas descobertas. Digamos que eu esteja começando a curtir a “onda” independente. Mas o início da minha paixão pela música nada tem a ver com um cenário alternativo. Para falar a verdade, o início dessa história não é nobre nem sofisticado. E sempre que adentro em uma nova fase da minha vida musical, inevitavelmente começo a pensar na origem e em todo o caminho percorrido até aqui.
Gosto de dizer que o início da minha paixão por música é no ano de 1986, quando consegui o meu primeiro disco da Legião Urbana, o lendário álbum LEGIÃO URBANA 2. Esta informação não é totalmente correta. Este álbum é sim um começo, mas não a origem de tudo. A partir deste histórico álbum da Legião, comecei a me interessar mais seriamente por música e a dar asas a esta minha paixão musical. Entretanto, os primeiros “amores” musicais são anteriores, de uma época em que o gosto pela música não estava consolidado, mas o encantamento já acontecia.
Tenho que admitir que os primeiros momentos de encantamento ocorreram com as músicas consideradas bregas. A primeira influência musical sempre vem dos pais, por isso ouvia Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Agepê , Renato e seus Blue Caps, Lafayete, Evaldo Braga, The Fevers e, é lógico, muito chorinho. Ouvia muitas outras coisas, bem mais “bregas” que as citadas anteriormente. No início dos anos 80, cheguei ao fundo do poço de ouvir a 98 FM, que tocava até o rei das empregadas domésticas, Elymar Santos. Não entendam mal, nunca fui fã do Elymar, só ouvia a 98 e gostava.
Uma música dessa época que me encantou bastante foi DE VOLTA PARA O ACONCHEGO, cantada pela arretada Elba Ramalho. Podemos considerá-la um hino brega, assim como DONA... esses animais... hehhe! Gostava de tudo isso. Mas, como já disse, em 1986 a Legião Urbana entrou na minha vida. Tudo começa a mudar. O rock entra no meu mundo musical de forma avassaladora! Percebo que esse é o gênero musical que combina com a minha alma.
Mas, tudo muda o tempo todo. Entre 1987 e 1988 entro numa fase evangélica, e dá-lhe REBANHÃO, SOM MAIOR e muitos outros. Em 1989 a Legião, com o clássico AS QUATRO ESTAÇÕES e o rock entram de novo no pequeno mundo de Evandro. Na virada para os anos 90, houve um passagem quase natural para o hard rock. A MTV chega ao Brasil, junto com ela Guns n´ Roses e FAITH NO MORE, uma das minhas banda preferidas até hoje. Do hard rock para o Heavy Metal e o Trash Metal foi um pulo. Entram em cena, Iron Maiden, Metallica, Megadeth, Antrax e outros. É uma fase radical. Qualquer música que não fosse pesada era considerada lixo comercial. O pop internacional que eu gostava nos início dos anos 80, passa a ser odiado.
A UERJ entra na minha vida. Aos poucos o radicalismo do som pesado vai sendo rompido pelo encantamento com Zé Ramalho, Milton Nascimento e o rock progressivo. Começo a perceber que gostar de coisas diferentes ao mesmo tempo não é ser contraditório, é ser eclético. Essa foi a maior das evoluções. Depois veio a música clássica.
Um novo capítulo. A Simone entra na minha vida. A melhor coisa que poderia me acontecer. Resolvo os meus problemas do coração e de quebra, desperto o meu interesse para outros nomes da MPB. Também devo a Simone o fato de não me envergonhar mais de gostar de pop internacional e determinadas vertentes da música dançante.
A partir daí, me torno um tarado por música. Quero “devorar” o maior número possível de gêneros e artistas. Não há mais preconceito. Posso curtir até o “Robertão” das antigas numa boa. Procuro bandas alemãs de rock progressivo, sinfonias de Tchaikovsky, a música do clip mais pedido de um programa televisivo, uma raridade da MPB, rock gospel internacional, os chorinhos de Waldyr Azevedo, o camaleão David Bowie e muitas outras coisas diferentes, como o rock independente das bandas citadas no início. Por que limitar, se podemos “conquistar” toda a beleza que só esse fenômeno inexplicável chamado música pode nos dar? Viva a diversidade musical!

sábado, outubro 07, 2006

ÁLBUNS OBRIGATÓRIOS

Estréia hoje no “Restinga Musical” uma atração que deverá ser fixa. Pelo menos uma vez por mês, pretendo falar de grandes álbuns que considero clássicos e obrigatórios para quem gosta de boa música. Obviamente, o “bom” gosto é algo muito subjetivo. Por isso, entendam esta nova “coluna” do nosso blog mais como recomendações bem intencionadas do que a pretensão de estabelecer um padrão de bom gosto. A obra musical que terá a honra de inaugurar a coluna ÁLBUNS OBRIGATÓRIOS é um clássico de peso, inquestionável para os fãs do rock progressivo:

GENESIS - FOXTROT
Uma das maiores pérolas da história do rock progressivo. Lançado no início dos anos 70, mais precisamente em 1972, este álbum talvez seja o disco com maior riqueza melódica do rock progressivo. A imponente “Watcher of the Skies” não poderia ser mais perfeita para iniciar este belo álbum. Seu clima introspectivo e um tanto soturno e sua letra reflexiva e metafísica dão uma boa mostra de que não se trata de um “produto” qualquer.
A sublime e imperdível “Time Table”, com sua melodia delicada e sua letra historicista mostra que, mesmo mudando o tom em relação a faixa anterior, a alta qualidade permanece.
Continuamos a viagem por este clássico com a mini-suite “Get ‘em Out by Friday”, uma das canções mais empolgantes do disco. Peter Gabriel “interpreta” vários personagens em seus vocais. A letra com ares de ficção científica e crítica social completa o rico menu desta faixa.
O arranjo de cordas na instrumental “Horizons” é simplesmente divino, demonstrando todo o talento do guitarrista Steve Hackett. É digno de nota o clima medieval da canção.
Fechando esta obra-prima de forma soberba está a irretocável suite “Supper´s Ready”. Cada um dos vinte e três minutos desta canção é de puro prazer para quem gosta da combinação entre beleza melódica, unidade melódica, virtuosismo musical, vocais “interpretados” e clima épico.
Geralmente as suites progressivas deste porte acabam sendo uma desculpa para os músicos exibirem o seu virtuosismo. Muitas vezes não há uma unidade melódica e até o sentido da letra se perde pelo caminho. Nada disso acontece em “Supper´s Ready”. Trata-se de uma canção com enorme duração, que não se torna cansativa em momento algum. A música não perde o foco. Apesar dos momentos bem distintos, há um fio condutor que perpassa todas as subdivisões da canção. A grandiosidade típica das sinfonias está presente, contrabalançada por momentos de delicadeza e até momentos quase cômicos.
Quem quiser conhecer mais a fundo esta banda fantástica, comece por esta obra-prima ou por uma de suas canções. A satisfação é garantida!

sábado, setembro 23, 2006

EU ERA UM LOBISOMEM JUVENIL... E AINDA SOU!

Recebi do grande amigo blogueiro, Marco Santos, do imperdível blog “Antigas Ternuras”, a missão de me autodefinir através de seis características principais. O meu sócio no Cinelând@, Paulo José, já respondeu ao desafio conhecido como “etiquetar” e já me repassou o mesmo desafio. Agora não tem jeito. Terei que responder a este chamado destes dois amigos. Farei como ambos fizeram, adaptando a proposta das seis características à temática do blog.
Há uma música da grande “Legião Urbana”, chamada EU ERA UM LOBISOMEM JUVENIL, do inigualável álbum “As Quatro Estações” que irá me ajudar a definir estas minhas seis características principais. Esta música parece ter uma intimidade impressionante com a minha personalidade. Existem versos que parecem ter sido escritos para me definir. Desde a primeira vez que a ouvi fiquei extasiado e ao mesmo tempo assombrado. Pensei “como pode uma música falar tantas coisas sobre mim, de forma tão clara e precisa?” Seja qual for o mistério, é óbvio que usarei passagens desta belíssima música para mostrar as minhas seis características.
“Mesmo se eu cantasse todas as canções... Todas as canções do mundo... Sou bicho do mato..."
Este trecho fala de uma das minhas principais características: a minha absurda timidez. Muitos questionam: “Como um professor, que fala para vários alunos, pode ser tímido?”. Poderia responder calmamente: Mesmo se eu falasse para todas as platéias do mundo... Sou bicho do mato!
“Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo/ Prefiro acreditar no mundo do meu jeito”
Este verso revela uma outra característica minha: estar sempre preocupado com o que está acontecendo ao meu redor. Só que isto me causa uma grande angústia. Esta angústia de não suportar as agruras do mundo é o maior alimento do meu, digamos, eu lírico. Tudo que escrevo, artigos, poesias, contos são filhos desta angústia. Com certeza, as palavras, as histórias que crio, “o mundo do meu jeito”, é que exorcizam toda esta angústia. Ou seja, sou dependente dos meus escritos, esta é uma característica importante.
“Ontem faltou água, anteontem faltou luz, teve torcida gritando quando a luz voltou...”
Esta passagem ingênua mostra claramente a minha verdadeira paixão pelos prazeres simples da vida. Não preciso de nada muito elaborado para ficar feliz. Uma boa pescaria, caminhar na roça, sentindo o ar puro, com a mulher da minha vida ao meu lado, é tudo de que preciso para me sentir feliz da vida!
“E você estava esperando voar, mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?”
Vejo neste trecho uma característica fundamental: sou extremamente sonhador. Sonho voar alto, publicar minhas poesias, concluir meus romances e publicá-los, vender roteiros para o cinema. No entanto, há um lado negro da força dentro de mim que diz: “besteria, você é um bom professor, contente-se com isso... viver de escrever no Brasil é ilusão!” Eu sou este conflito!
“O que você me falou me fez rir e pensar: porque estou tão preocupado por estar tão preocupado assim...”
Nesta passagem percebe-se a minha faceta “senhor ansiedade”. Sou tão ansioso que pequenos problemas viram tragédias insolúveis mesmo antes de acontecerem. Qualquer miudeza do dia-a-dia me deixa ansioso como, por exemplo, ter que ligar para o serviço de atendimento de uma empresa, ou ter que fazer uma reclamação qualquer. Se é algum problema que poderá acontecer em abril, já estou sofrendo desde outubro do ano anterior. Bem, não vou falar mais sobre isso. Já estou ficando ansioso!
“Se você quiser alguém para ser só seu, é só não esquecer estarei aqui”
Este é o verso que mais me revela. Mostra que quando amo alguém, amo de verdade. A entrega é total. Não há meios termos. É amor por inteiro, intenso e corajoso. O amor que tenho pela Simone(minha esposa) é este tipo de amor. Esperei anos para vencer minha timidez e chegar perto dela. Até a coragem brotar. Esperei três anos e meio, esperaria muito mais. A minha linda demorou um pouco a perceber, mas meus olhos já diziam “Se você quiser alguém para ser só seu, é só não esquecer estarei aqui”. A cada vez que eu inventava uma desculpa qualquer para simplesmente ficar perto dela. E agora ela sabe que continuam dizendo a mesma coisa, só que de forma ainda mais intensa.

sábado, agosto 19, 2006

RETRÔ E INOVADOR!


Costumo ter uma visão pessimista da vida em muitas oportunidades. Em relação a indústria da música não tem sido muito diferente. Para quem não aprecia "rap" e "hip hop"(é o meu caso), o mercado da música anda desanimador. Somos bombardeados diariamente com toda essa vulgaridade e futilidade destes dois ritmos vindos dos Estados Unidos. As mulheres lutaram por tanto tempo para deixarem de ser simples pedaços de carne e agora ganham a vida sendo bundas, coxas e seios cantores. Os "brothers", então, anunciam o seu apreço pelas drogas e tem ataques de megalomania, dizendo em todas as músicas que são gostosões, que deixam as mulheres loucas e que as prendem pelo sexo espetacular. Aí fica difícil aturar. Além do mais, sabemos que quando o cara conta muita vantagem é porque fica devendo em alguma coisa!
No cenário nacional, a coisa também anda feia. O funk carioca é a versão tupiniquim para o hip hop sexista americano. Os representantes da MPB andam cada vez menos inspirados e mais distantes do sucesso de público. Aliás, muitos medalhões da MPB parecem ignorar totalmente o povão. Fazem músicas para si mesmos e para um grupo de privilegiados. Mas, de vez em quando, uma boa novidade surge e nos trás um pouco de esperança.
No Brasil, bandas como a novata "Gram" trazem um novo alento. No contexto internacional as boas surpresas também acontecem. Há cerca de uns três meses fiz o primeiro contato com uma banda que já tem um bom tempo de estrada , mas para mim é uma novidade. Baixei o sensacional álbum "At War with the Mystics" e passei imediatamente a admirar o trabalho da banda The Flaming Lips.
Por uma pequena pesquisa que feita na Internet descobri que este lançamento da banda é praticamente o oposto do trabalho anterior, marcado pela forte presença dos elementos eletrônicos. Neste novo álbum, o Flaming Lips enveredou pelo caminho retrô. A parafernália eletrônica perde espaço e guitarras que evocam os criativos anos 70 aparecem em primeiro plano. Obviamente os elementos mais modernos não são totalmente retirados e o resultado desta mistura é sublime!
Em termos melódicos, é um dos melhores álbuns que ouvi nos últimos anos. A proposta retrô não se resume às guitarras. O clima do disco é bem saudosista, ora evocando o pop rock dos anos 70, ora evocando o rock progressivo. Muitas melodias do disco sugerem reflexões e aquele sentimento de saudade de algo que não conhecemos, que apenas algumas poucas bandas conseguem evocar. É o caso da lindíssima "Vein of Stars", com sua letra meio filosófica e a melodia que nos faz viajar em nossos próprios pensamentos e sentimentos.
Realmente é uma obra que nos atinge primeiro nos campos afetivo e reflexivo. Mas, para além disso, algumas letras tem um evidente caráter político, de oposição a insana e imbecil política Bush, como comprova a canção "Free Radicals" e o próprio título do álbum. Ou seja, o Flaming Lips foge do lugar comum atual, não só em termos musicais, mas também no caráter crítico das suas letras.
Ao fazer uma viagem pela musicalidade dos anos 70, a banda produziu um acontecimento novo no repetitivo mercado musical de hoje. Isto prova que é possível fugir a ditadura do mercado e produzir algo genuinamente novo, ainda que tenhamos que mergulhar no passado para isso. Dessa forma, joga-se por terra o lugar comum de que toda a inspiração no passado é meramente saudosista e desprovida de criatividade. Artistas competentes, como o Flaming Lips demonstra ser, conseguem se apropriar do passado para produzir algo novo.
Quando ouvimos pérolas como "The Sound of Failure..." ou "It Overtakes Me...", com seus títulos completos quilométricos e o climão retrô, logo reconhecemos os elementos das décadas passadas, mas também percebemos, de imediato, que se trata de algo novo e legitimamente original.
Sendo assim, torcemos para que mais novidades como essas consigam vencer a corrente da mesmice e trazer mais prazer para os amantes da boa música.