RESTINGA MUSICAL

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sexta-feira, junho 09, 2006

DESORDEM E PROGRESSO - PARTE II



Continuamos nossa jornada através do rock progressivo. Como apontamos no final do último post, uma das principais características deste gênero é o diálogo com a música clássica. Isto ocorre em dois aspectos primordiais. Em primeiro lugar, os compositores das bandas progressivas buscaram a grandiosidade ao dialogarem com a música erudita. É inegável a procura do rock progressivo pela grandeza das sinfonias e das óperas. Quem ouviu a desconcertante canção ATOM HEART MOTHER do Pink Floyd, ou CLOSE TO THE EDGE, do Yes ou ainda a magnífica SUPPER’S READY, do Genesis, terá que admitir que se tratam de grandes (inclusive na duração) sinfonias progressivas. Com certeza estas bandas ambicionavam atingir o gigantismo dos clássicos e, diga-se de passagem, foram muito bem sucedidas.
Outro aspecto que aproximou o rock progressivo dos clássicos foi o virtuosismo. Nas suites e concertos clássicos, os músicos virtuosos podem exibir todo o seu talento. De certa forma, concertos para piano, violino e outros instrumentos parecem ser escritos propositadamente para que o talento de seus executores possa ser apreciado por platéias, sempre ávidas por demonstrações de perícia e paixão musical. Algo muito parecido ocorre com os músicos das bandas progressivas. Nas grandes "suites" progressivas, estes músicos virtuosos podem nos impressionar com seus enormes solos de guitarra, teclados e, até mesmo, de bateria. Os tecladistas Rick Wakeman (Yes) e Keith Emerson (ELP) tornaram-se verdadeiras lendas com seus sintetizadores, moogs e demais parafernálias. Guitarristas como David Gilmour (Pink Floyd) , Steve Howie (Yes) e Steve Hackett (Genesis) não ficam para trás. Sem falar na unanimidade do baterista Neil Peart, do Rush.
Cabe ressaltar que estas características do progressivo, a busca pela grandiosidade e o virtuosismo dos músicos, são duramente criticadas pelos detratores deste gênero musical. Fanáticos por outros subgêneros de rock acusam os progressivos de fazerem músicas entediantes, longas em excesso e sem melodias definidas. Afirmam que as canções são meras desculpas para os músicos exibirem seu virtuosismo vazio. Uma crítica que considero exagerada e injusta. A maior parte das "suites" e "sinfonias" progressivas são melodicamente coerentes, possuem conteúdo e brilho próprios, independentes do virtuosismo musical que as perpassam.
Ainda há uma terceira conexão entre o progressivo e a música clássica, que deixei para analisar separadamente. As bandas progressivas elevaram à décima potência a idéia de álbum conceitual, não apenas em termos musicais, mas também em relação a temática e as letras. Um exemplo máximo é o arrebatador disco do Pink Floyd, DARK SIDE OF THE MOON. Nesta obra, tanto a musicalidade, quanto as letras sugerem claramente o objetivo de fazer um grande estudo sobre a loucura. Semelhante as óperas, com seus "climas musicais" e seus libretos sugerindo ao público uma temática específica. Os progressivos trazem as suas grandes óperas rock, onde um tema perpassa tanto as melodias quanto as letras de álbuns inteiros.
Por fim, retornaremos a querela "progressivo X psicodélico". A esta altura, o nosso leitor já formou sua própria opinião sobre o assunto. Se levarmos em conta as características supracitadas, podemos concluir que o Pink Floyd, por exemplo, pode sim ser considerada uma banda progressiva. A busca pela grandiosidade (no álbum Atom Heart Mother), o virtuosismo dos músicos, principalmente de Gilmour, e os álbuns conceituais são marcas inconfundíveis do progressivo. Obviamente, os "floyds" possuem outras características e, em muitos momentos, se aproximam da psicodelia. No entanto, se expandirmos o conceito de rock progressivo, como fazem alguns especialistas, o Pink Floyd ganha um rótulo curioso: PROGRESSIVO ESPACIAL! Um subgênero de rock progressivo que engloba elementos psicodélicos sem deixar de ser música progressiva.
Muitos admiradores sinceros não aceitam estas subdivisões, que oferecem o perigo de pulverizar o conceito, criando modalidades absurdas como o progressivo eletrônico. Estes só consideram progressivo o que os adeptos das subdivisões chamam de PROGRESSIVO SINFÔNICO. Esta é a idéia de rock progressivo que norteou este texto. É basicamente o estilo das duas bandas consideradas os "papas" do progressivo, o GENESIS e o YES. Mesmo nesta visão mais "estreita", o Pink Floyd é inegávelmente progressivo, ainda que possua momentos não progressivos em sua carreira.
Poderia abordar ainda outros temas importantes ligados ao rock progressivo, mas aí sim seria um virtuosismo vazio. Nossa "suite" já cumpriu o seu papel, as demais discussões ficam para outras oportunidades!
PS: Para quem quer sair da teoria para a prática, ouça os álbuns FRAGILE, do Yes, FOXTROT, do Genesis e DARK SIDE OF THE MOON, do Pink Floyd. Talvez os três maiores álbuns do progressivo!

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Grande Evandro:

Cada vez mais Você me faz curioso a respeito deste gênero,digamos assim,"rocklássico"...

Na verdade,o mesmo não faz muito a minha cabeça,mas vou ficar atento para reter a elaboração melódica. As improvisações teriam algo a ver com a maneira jazzística?

Renovo meu dizer sobre o teu estilo,porque,se não me falha a memória,quando a revista BIZZ publicou,no início dos anos 80,matéria sobre esse estilo roqueiro não tive paciência de ir até o final: o texto ficara muito hieroglifado.

Contigo,nesta atualização,foi diferente. Até queria a parte III. Terá?

Continue assim,esclarecedor e ameno,nesta senda despretensiosa que só acrescenta.

Abraço sabatinal.

2:47 PM  
Blogger Evandro C. Guimarães said...

Você acertou em cheio, grande Paulo Patriota! Realmente as improvisações do progressivo têem tudo a ver com o jazz. Afinal, o nome Pink Floyd é homenagem a dois músicos de jazz. É uma das influências do progressivo que passaram batidas em meu texto imperfeito. Ainda bem que a sua luxuosa participação corrigiu esta falha!
Um grande abraço!

8:36 PM  
Blogger Paulo de Tarso said...

Evandro,

Sugiro que no próximo post fale se puderes da influência do jazz no progressivo. Lembrei-me que Squire e Anderson do Yes, flertaram com o Jazz antes de envergarem pelo rock. Além de Supertramp, da segunda fase do Camel, da passgem de CAtherine pelo Focus e por aí vai. Sem contar Caravan, ELP, VDG, etc,etc,etc...

abs progressivos,

12:15 PM  
Blogger Paulo Assumpção said...

Meu amigo, há tempos que sei de sua paixão pelo rock progressivo e do conhecimento que tem a respeito deste gênero. Diga-se de passagem, ambos responsáveis por abrir os meus ouvidos para experiências musicais que eu desconhecia. Ainda assim, não posso deixar de mais uma vez elogiar seus textos a respeito do assunto. Verdadeiros shows de informação. Grande abraço!

1:12 PM  
Blogger Marco said...

Continua mandando bem, grande Evandro. Em sua análise nos chama a atenção o fato das pessoas terem uma necessidade incontrolável de rotular gêneros e subdivisões musicais. Parece que a música só faz sentido para alguns se estiver devidamente catalogada em escaninhos.
Concordo com suas sugestões e, se me permite, acrescento mais três imperdíveis: os álbuns sinfônicos do Rick Wakerman (uma de minhas antigas ternuras), "The Six Wives of Henry VIII", "Journey to the Centre of the Earth" (maravilhoso! Um espetáculo!) e "The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of Round Table".
Outra coisa: quem critica o virtuosismo de roqueiros está falando uma enorme besteira. Quantos e quantos músicos não se inspiraram a seguir a carreira musical vendo/ouvindo um grande tecladista ou guitarrista ou baterista ou qualquer excepcional instrumentista. Claro que não há como agradar a todos. Mas algumas pessoas deveriam poupar nossos olhos e ouvidos de muita bobagem!
Um grande abraço, amigo! Continue que estou gostando muito!

1:33 PM  
Blogger Evandro C. Guimarães said...

Você está certo, Paulinho. Realmente há um flerte de grandes músicos do progressivo com o jazz, uma das mais importantes influências do rock progressivo.
Agradeço a sua participação, completando esta lacuna do meu texto.
Grande sócio, agradeço suas palavras e a sua presença fiel aqui no Restinga Musical.
As suas sugestões servem para mim também, Marco. Conheço pouco da carreira solo do Wakeman. A julgar pelo seu trabalho sensacional no Yes, deve ser mesmo de primeira linha. Essa necessidade de rotular a música incomoda mesmo. O que importa é a qualidade e a força que a música de uma banda possui, independente do rótulo.
Um grande abraço!

6:21 PM  
Anonymous Anônimo said...

Well... discordo da tua opinião sobre os três discos do fim. Eu diria que o Dark Side é insuperável , mas o melhor disco do Yes é o Tales From Topografic Islands(ou coisa que o valha) , o do Genesis é o The Lamb Lies Down in Broadway , e temos ainda o Prologue e o Song for All Seasons do Renaissence , o Days of Future Passed(insuperável na questão erudita vs. progressivo) , do Moody Blues , o primeiro disco do Peter Gabriel , o Página do Relâmpago Encantado , do Beto Guedes , o TUdo Foi Feito Pelo Sol , do Mutantes... enfim.

São grandes discos , que sucitam diversas opiniões. Só me resta pedir por uma continuação destes artigos!

Um abraço!

11:09 PM  
Blogger Evandro C. Guimarães said...

Grand Mutante, Tales From Topographic Oceans realmente é um bom disco, com uma proposta conceitual mais radical que outros albuns do YES. No entanto, me parece que eles capricharam no "conceito" , mas não foram tão brilhantes nas melodias. E música tem que ser boa, independente do "conceito" que esteja norteando o disco.
Na minha modesta visão, três albuns estão empatados como os melhores do YES: FRAGILE, THE YES ALBUM e CLOSE TO THE EDGE. Indiquei o FRAGILE no final do texto simplesmente porque é o mais famoso e, consequentemente, o mais fácil de encontrar!
Quanto ao Lamb Lies... ser o melhor do Genesis, considero que é o mais pretensioso do Genesis, não o melhor. Há aqui o mesmo pecado: o "conceito" de uma ópera rock é interessante, mas em termos de riqueza melódica, FOXTROT é disparado o melhor do Genesis.
Agradeço as suas sugestões de discos de outras bandas. Confesso que também poderia indicar muitos outros álbuns e bandas, como os alemães do Eloy, mas para o não especialista, estas longas listas de bandas e nomes de discos acaba sendo meio chato. Por isso indiquei apenas três como uma introdução ao mundo do progressivo. Em posts posteriores falarei de outras bandas!

10:36 AM  
Anonymous Anônimo said...

Como aprendi sobre o Rock progressivo! E eu que não sabia nada disso, pois não sou tão entendida no assunto como você, meu caro amigo Evandro. Por favor, me explique como posso baixar e gravar músicas pela Internet, sem ter o Velox. Um abraço!

1:18 PM  

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